segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Milocas Pereira: Zamora Induta foi criação da cooperação portuguesa

Acabou por ser uma conversa fácil. Milocas é jornalista, sabe transmitir a mensagem que lhe interessa e, pelo que se infere desta conversa, a mensagem é para ajudar a compreender e resolver a situação na Guiné.

No momento desta nossa conversa, estão em Angola o Primeiro Ministro e o Chefe de Estado Maior General das Forças Armadas da Guiné Bissau, quase que se pode dizer que estão aqui os homens que têm o poder na Guiné … ou será que o Presidente, apesar do seu papel constitucional, tem também poderes para segurar a Guiné?

O Indjai, o chefe militar, não terá, seguramente saído sem cuidar de deixar a retaguarda segura. Ficaram lá o Bubo na Tchuto e outros elementos que lhe são afectos, esses garantem a sua retaguarda. Mas continuo a crer que, apesar da sua “eleição vitoriosa”, o Presidente Maln Bacai Sanha continua sem poderes. Basta vermos a ginástica que tem de fazer para se afirmar como primeiro magistrado da Nação. Ora diz uma coisa, ora diz outra. Ora tem que consultar …
Para Bubo Na Tchuto e outros segurarem as Forças Armadas com Indjai fora, isso significa que existe já um comando, uma disciplina e obediência militar a António Indjai?

Sem dúvida nenhuma... Acabaram-se as cisões nas forças armadas?

Não. Não percamos de vista que as forças armadas guineenses continuam a ter um predomínio balanta. Logo a seguir aos balantas estão os Biafadas, a etnia do general António Indjai e o próprio Presidente Malan Bacai Sanhá. A etnia biafada é composta por balantas islamisados.O general indjai não só pode contar com o apoio dos balantas, muitos agrupados no PRS, tal como pode contar com Malan Bacai Sanhá. Com essa maioria ele esta à vontade para circular, deixando os seus a segurar as forças armadas.
Tendo resgatado Bubo Na Tchuto quando este deveria prestar contas à justiça, isso significa que Indajai tem-no como um homem grato ou foi Bubo a telecomandar Indjai? Tendo os dois os mesmos interesses e estando equiparados até no plano cultural, acredito que existem razões para se apoiarem mutuamente. Mas não haja dúvidas, neste momento a liderança é de António Indjai.
Apesar de não acreditar que eles estejam cem por cento em sintonia, neste momento apoiam-se contra o inimigo real que pode ser o governo ou uma eventual reforma nas forças armadas, já que isso representaria o fim da manipulação que têm estado a orquestrar …

Zamora Induta era o último problema para as chefias militares que querem manter as coisas tal como estão?

Zamora Induta nunca foi um problema. Zamora Induta foi uma criação da cooperação portuguesa.Trata-se de uma figura jovem. E sabemos que em África a idade conta.Induta foi tido como um atrevido que quis aventurar-se em terrenos dos mais velhos. Daí, como mandam as regras étnicas africanas, ele levou um correctivo que, acredito, dificilmente se inverterá nos próximos tempos. Ao afrontar os mais velhos, ele é visto como um traidor na etnia balanta e entre os biafada.
Isso significa que a sua libertação pode não estar para breve?
Ele pode ser liberto, mas isso não lhe abrirá portas para a direcção das forças armadas.

Existem sinais de que ele esteja ainda vivo?

Acredito que sim, mas não creio que esteja no local que tem sido indicado oficialmente. Mansoa, o quartel onde se diz que ele está, dista 60 quilómetros de Bissau, mas não creio que lá esteja. Ele não está sob custódia judicial, está sob custódia do senhor Indjai. Pela estratégia de Indjai, ele não teria um refém às portas de Bissau.

… Estará Zamora como um escudo … ou seja, qualquer acção pode representar a sua morte?

Não acredito que Zamora Induta tenha alguma retaguarda.Conheço-o porque estive, na guerra, no lado dominado pelo Ansumane Mané … ossos do ofício, não tomei qualquer partido … mas convivi com Zamora Induta. Aliás, já tinha convivido com ele antes da guerra, ele foi ao meu jornal propor colaboração para o lançamento do seu livro. Mas acho que Induta foi ingénuo, deveria crescer mais na perspectiva militar e não na político-militar, como lhe foi imposto para salvaguardar interesses inconfessos de alguma “clique” política que pretendeu servir. Em nome e a troco de quê? Não me pergunte porque não sei. Ele avançou para uma parceria política que não lhe favoreceu, precisava de mais tempo para se afirmar nas forças armadas. Antes dele há muitos oficiais de Nino Vieira, por exemplo, com muito mais formação e com muitos mais anos de carreira, mais velhos. Pessoas com provas dadas e com muito protagonismo ainda. Alguns estão refugiados no Senegal, outros estão em Bissau, metidos nas suas vidas, à margem das forças armadas … são oficiais formados nos Estados Unidos, em França, na Rússia e em Cuba, com muito peso.
Zamora foi uma criação da cooperação portuguesa que lhe terá incutido a ideia de ser um líder que apoiasse o PAIGC e ele acedeu, com algum apoio político de Carlos Gomes Júnior, o Primeiro Ministro … olhe, deu no que deu.

Sanhá não tem poder “Continuo a achar que Bacai Sanhá não tem poder algum. Não tem peso político”

Então temos um Presidente fragilizado, na Guiné Bissau …

Inexistente! Com os acontecimentos de 1 de Abril, em que Indjai destituiu Zamora e reteve o Primeiro Ministro, Sanhá não se manisfestou porque apoia Indjai, por não ter poder, ou porque não queria Zamora Induta, tinha os olhos do mundo postos na Guiné… Continuo a achar que Bacai Sanhá não tem poder algum. Não tem peso político. E peço desculpas se estiver a induzir em erro os leitores, mas já o tinha dito nas vésperas da eleições presidenciais, que seria um grande erro se Malan Bacai Sanhá fosse colocado na presidência da Guiné. Ele não ganhou como se ganha democraticamente …

Mas teve o apoio de Carlos Gomes Júnior que lidera o PAIGC

Sim, mas não sei se esse apoio seria suficiente para ganhar. Sei que ele esteve ausente do país por alguns anos, em Dakar, no Senegal, onde há embaixadas árabes e de países muçulmanos. Há fontes que dizem que ele tinha contactos com a Líbia, com a Arábia Saudita e outros … foi daí que começaram os apoios à sua candidatura. Num país com as instituições do Estado fragilizadas o que conta é o dinheiro que vem de fora. Hoje, muito dificilmente se ganham eleições de forma democrática, como diz o Ocidente, ganham-se eleições também com base no interesse do capital… se me disser que a Guiné não tem grande interesse para o grande capital, também se pode dizer que poderá ter, eventualmente, uma localização estratégica que interesse aos países árabes. Também é sabido como Kadafi é profícuo em manipulações que envolvam dinheiro. Foi investido capital em Malan Bacai Sanhá…

Mas Kumba Yalá também se islamisou…

Sim, islamisou-se. Não sei a troco de quê. Será que ele se converteu como os fiéis muçulmanos, ou se tratou de uma conversão estratégica para obter louros políticos? Não sei. O certo é que Kumba Yalá, para mim, como jornalista e não como política, que não sou, continua a ter grande protagonismo político, ainda que no silêncio.

E isso por ser balanta, por ser o líder do PRS, ou porque tem, de facto, influência na sociedade guineense?

Continua com muito protagonismo junto das forças armadas. Se se pretende uma reforma calma e tranquila …

Mas foram as forças armadas que o tiraram da presidência

Sim, porque há interesses dentro das forças armadas. Mas se se pretende uma reforma que não leve o país a um novo conflito, há que se contar com Kumba Yalá. Há que ter em conta o seu papel enquanto líder carismático da etnia balanta. Não só pelas forças armadas, mas também porque em África se gosta das pessoas destemidas e que se exibem com algum teatralismo … e Kumba Yalá é um profissional nato nesta área. Ele tem protagonismo e já soube usa-lo no momento certo, quando fez frente ao PAIGC de Nino Vieira, quando se deram os fuzilamentos do fim da década de oitenta. Desde aí não parou. Tem uma boa parte dos balantas e uma boa parte dos militares.
por outro lado, continua a ser um político escutado. Atenção que não se reformará as forças armadas sem se reformar a classe política. Ainda agora ouvia um debate na Rádio Nacional de Angola em que se falava da conivência perversa entre os militares e os políticos guineenses, isso existe. É essa ligação que emperra a Guiné. Os militares sabem que os políticos têm culpas no cartório e os políticos sabem que os miliatres não têm grande formação … vimos agora um chefe do estado maior que não sabe falar a língua veicular do seu país … não se trata de um complexo, mas acho que uma figura do Estado tem de dominar a língua materna e a língua de relacionamento com países...

Mas há casos de pessoas que, na luta anti-colonial, saíram das aldeias e foram estudar e formar-se em Cuba ou na União Soviética, não estudaram no sistema português, nem tinham como.

Mas está a falar-me dos anos 70. Eu acredito que uma pessoa que tenha a ambição de ser líder das forças armadas tem de estudar um bocado.Sei que o Indjai está na Guiné há muitos anos, desde a independência.Acredito que um bocadinho de esforço e ele já estaria a falar o português que fala o Malan Bacai que também teve o mesmo processo. É uma questão de interesse e de aplicação.Mas creio que a ele não interessa ter mais formação, interessa-lhe é ter o comando para chamar a si…

E é pelo dinheiro ou pelo poder… acha que Indjai tem ambições políticas?

Acredito que sim. Para a salvaguarda de padrões que ele acha que tem de defender. São padrões étnicos… e também para a salvaguarda da sua própria sobrevivência, em primeira mão. Porque se se avançar com uma verdadeira reforma das forças armadas o Indjai não existe.

Terá de ir tratar da vida dele e não acredito que com a reforma ele ficaria anulado em termos de poder ou a sua própria vida ficaria em risco?

Ele torna-se um cidadão comum e não acredito que esteja interessado nisso. Porque, numa entrevista, ele disse que os combatentes pela liberdade da Pátria são relegados para o segundo plano, ou seja, carecem de tudo, estão na miséria. Acredito que sim. Mas violência e apoderar-se das estruturas do Estado, de forma ilegal, lhe darão afirmação como combatente da liberdade da Pátria? Não haverá outros combatentes da liberdade da Pátria que poderiam fazer o mesmo que ele mas que o não fazem por uma questão de dignidade e de princípios? Antes de tudo, o que pesa na consciência do senhor Indjai é o seu próprio passado, de violência. E continua a apostar na violência para os seus fins. Mas ele sabe que sem o apoio internacional pode acontecer o que se deu quando aprisionou o “Cadogo” (Carlos Gomes Júnior – Primeiro Ministro).
O povo está farto de violência. Há dias estive na TV Zimbo que é muito vista na Guiné e tive muitas reacções ao telefone. O povo está cansado. A reforma nas forças armadas apenas não chega, é preciso também uma nova classe política na Guiné. Há muita gente fora do país. Muita gente que teve de sair para continuar a existir.

Uma reforma bem sucedida passa apenas por pagar bem a pensão?

Não. Isso é importante mas não é o essencial. A Guiné tem boas características para a agricultura, tem riqueza pesqueira … só que a mentalidade é que reza que todo aquele que participou na luta de libertação nacional, e eu creio que devem ter tratamento condigno, mas que neste momento isso, na Guiné, não é possível, vão optar pela criminalidade como forma de sequestrar toda a Nação só porque acham que os seus direitos não são assistidos. Por isso que há alguma má fé na actuação do senhor Indjai. Porque, como diz o adágio, em terra de cegos quem tem um olho é rei, só que ele tem é arma, é com isso que joga a sua influência. E independentemente de ter ou não formação, parece que ele está a tentar posicionar-se para chegar à liderança política do país.

Não se tratará antes uma questão de sobrevivência? Se perder o poder militar, não sendo político, ficaria à mercê de uma eventual “revanche”, tal como tem sucedido ciclicamente na Guiné, ou mesmo uma perseguição judicial...

Em vez de se olhar para uma solução para a saída airosa do senhor António Indjai, o melhor é procurar uma boa solução para a tranquilidade da Guiné Bissau. Tem-se dado muita importância e tempo com figuras que não representam nada mais que a violência.

Retomando a primeira pergunta desta nossa conversa, o facto de António Indaji e Carlos Gomes Júnior estarem em simultâneo em Luanda não significará a necessidade das autoridades angolanas ouvirem uma troca de garantias entre os dois homens?

Pode ser, mas não sei que tipo de garantias é que um pode dar ao outro. Se calhar é para dizer se não me atacares eu não te ataco. Mas isso leva a Guiné Bissau a quê? O grande problema é que se perde tempo a dar importância a gente que está a violentar o país. Uma ou duas pessoas. O povo é que merece a paz, há trinta anos.
Mas não são apenas duas pessoas, como já se viu. Tivemos o Presidente Nino Vieira, O general Ansumane Mané, o general Veríssimo, o general Tagma … parece que há sempre mais alguém na fila. Neste momento são o Injai e o Bubo Na Tchuto. Os únicos com a força da violência que eles utilizam.

Reforma das FA e o Narcotráfico “Uma reforma das forças armadas irá estancar uma boa parte da acção do narcotráfico”

A reforma das forças armadas corre o risco de encalhar nos interesses do narcotráfico?

Não sei. Mas, em qualquer país do mundo, quanto mais desorganização, mais favorável o terreno para o narcotráfico. Uma reforma das forças armadas irá estancar uma boa parte da acção do narcotráfico. Os Estados Unidos, uma grande potência, lançaram um alerta internacional para as práticas do general António Indjai. Não sei em que é que se fundamentam, mas uma declaração destas precisa de ter um bom fundamento. De qualquer forma o senhor Indjai continua a circular e a tentar negociar como se fosse a pessoa mais íntegra do mundo. É complicado pretender tirar ilações disso.

“Os líderes carismáticos do PAIGC deixaram de existir há muito tempo”

Tudo na Guiné passa pelo PAIGC, em boa medida. Há um, vários, ou já não há PAIGC?

Eu continuo a dizer que se o PAIGC não deixou de existir com o golpe de Nino Vieira, nos anos oitenta, deixou de existir logo a seguir ao multipartidarismo, a sua entrada em vigor nos anos noventa. Digo. De lá para cá usa-se a sigla do PAIGC para atingir-se fins políticos. Os líderes carismáticos do PAIGC deixaram de existir há muito tempo. o povo deixou de dar crédito ao PAIGC. O que é um partido sem uma ideologia e sem um programa? Que ideologia e que programa tem o actual PAIGC?

Estamos a permitir o nosso suicídio enquanto entidades culturais

Pode-se dizer que tudo isso é herança de um erro de Amílcar Cabral por ter tentado unificar Cabo Verde e a Guiné Bissau, o que acabou por correr mal, com a sua morte, com a separação dos dois países e a eclosão das tensões étnico-políticas?

As coisas começaram com o assassinato de Amílcar Cabral. Mais tarde veio o golpe de Nino Vieira e, mais tarde, o golpe de Ansumane e agora o que se tem assistido. Enquanto guineense que sempre acompanhou de perto as coisas do país (sou filha de um combatente pela liberdade da Pátria), conheço bem o PAIGC. A minha pena é que nós, em África, continuamos colados ao modelo político ocidental, continuamos escravos do Ocidente, apesar das independências, e não conseguimos olhar para alguém sem que essa pessoa faça parte da nossa raça política. Isso tem custado muitas vidas a África, vidas valiosas, por uma política cuja natureza não conhecemos. Adoptamos uma cultura política ocidental, dos seus grandes pensadores. Será que a África não tem outra saída que não a dos partidos políticos? Se calhar optar pela tecnocracia ajuizada pela sociedade civil e com alguém na liderança do Estado? Temos de ter parlamentos e senados como no Ocidente? Estamos a permitir o nosso suicídio enquanto entidades culturais. Não investigamos o meio que nos envolve para sabermos o que é melhor para nós. Não temos a cultura do adversário político, temos o inimigo que deve ser abatido.
Temos usado a violência e temonos revelado incapazes. Não é à toa que os filhos e netos dos antigos colonizadores estão a regressar em força a África. Hoje África já tem quadros, mas África relega-os a um plano inferior em benefício do que agora se chama expatriado …

Está a falar da Guiné Bissau?

Claro que estou a olhar para a Guiné. É uma questão de conceito. Depois da independência eram cooperantes, agora são expatriados. A eles cabe tudo: salário duas ou três vezes superior, ainda que com nível de formação inferior ao nosso. Têm todas as condições para viverem bem. Estamos a criar outra vez o pressuposto para uma revolta social. Porque ninguém gosta de estar no seu país e ver gente que vem de fora, arrogante, a viver em condições superiores …

Mas temos quadros no estrangeiro, no Ocidente. Isso não é fruto exactamente do facto de os quadros africanos abandonarem os seus países?

É evidente que vão abandonar. Eu prefiro viver o vexame na Europa, pelo menos sei que não estou no meu país. Agora, viver o vexame n o meu país é menos suportável.
No caso da Guiné, Kumba Yalá que há pouco disse poder ter um papel importante, é homem para inverter este quadro?


Não sei. O que digo é que há dois anos, quando houve eleições, eu disse na LAC que mais valia chama-lo, apesar de ser imprevisível. Eu sei que Angola é capaz de o fazer, tem como fazê-lo. É um mal menor …

Acha que Angola aposta mais no PAIGC que no Kumba Yalá?

Há uma tradição …

Não é a imprevisibilidade de Kumba?

Não. Os nossos libertadores ainda têm uma aposta cega nos companheiros de armas, não olham para os outros com olhos normais. Temos muita esperança na liderança angolana da CPLP, porque Portugal já nos levou a muitos desaires. Acredito que o Estado português tenha tido alguma boa vontade, mas há muito lobby. Muitas vezes, acho, a linha traçada pelo Estado é desviada pelos lobbys empresariais.
Acredito na boa vontade do Presidente José Eduardo dos Santos e do Estado angolano em ajudar, de forma fraternal, a Guiné a ultrapassar o seu problema, mas é necessário ter em conta o que chamo de “lobbycracia” que está a levar os nossos países a um ponto que pode trazer conflitos sociais.

Ou seja, o Estado angolano deverá ter uma acção rápida. Não se deixar estender pelo tempo?

Sim. E tratar as coisas de Estado para Estado. Porque há muita gente pelo meio a querer influenciar por questões de interesse. Porque conhecem o ministro tal, ou o director tal … dão esta ou aquela opinião … o maior contributo de Angola para a Guiné deverá passar por ouvir os políticos mais influentes da Guiné. Depois, vem o exemplo dado por Angola que soube tratar do seu problema internamente.
Será preciso chamar as instituições do Estado, a Guiné Bissau, hoje, banaliza as instituições, não há instituições na Guiné, há pessoas que se movimentam em termos de lobbies. Olhando para eles descobre-se que são os mesmos que estiveram com Nino Vieira, com Ansumane Mané … são os mesmo que estão com Malan Bacai Sanhá, Indjai, etc. há que se pôr um termo nisso.

Uma missão militar angolana seria garantia suficiente e os guineenses aceitam-na bem?

Acredito que sim. Até porque a sociedade civil diz já não acreditar numa solução interna do problema militar, tem de haver uma presença estrangeira. Poderá não ser apenas Angola, mas a experiência de Angola é-nos muito valiosa.
Acredito que o Estado angolano tem as melhores intenções. Mas, atenção: o Estado. De Estado para Estado. O Nino Vieira usou muito o lobby, isso foi a sua perdição. Os tais “lobbicratas” continuam a ir e a vir, a influenciar. São um perigo.

As eleições de 2012 ainda deverão ser asseguradas com militares estrangeiros?

O que eu penso é que se deveria criar um sistema de defesa e segurança que englobasse os PALOP, não estou a falar da CPLP, os PALOP, uma parte ínfima da CEDEAO, porque tenho suspeitas em relação à liderança da CEDEAO, e uma parte institucional da União Africana. Essa estrutura deveria ser liderada por Angola, até pela confiança que os guineenses têm neste país. Não é preciso muito dinheiro, é preciso vontade e Angola sabe o que deve fazer.

Falou dos apoios a Bacai Sanhá. Acha que depois das tensões étnicas, depois do narcotráfico, a Guiné pode vir a ser palco para tensões religiosas também?

Não o diria, mas que há um visível interesse da actual presidência no sentido de um maior apoio dos países muçulmanos sim, há. Como é que Malan Bacai Sanhá viveu anos no Senegal sem reforma, sem salário e voltou com todo o apoio que teve?

Não tem negócios?

Que se saiba o filho tem alguns, ele não. Mas teve o apoio do PAIGC, é verdade. Só que o PAIGC tem de pensar nos guineenses, hoje temos um Presidente arrogante que se julga quase dono da Guiné … Olhe, o Nino perdeu-se por ouvir demasiado os lobbies, o Kumba Yalá pode não inspirar muita confiança a algumas pessoas, mas também ainda pode ter mão nos militares balanta.