quinta-feira, 17 de março de 2011

Issuf Sanha - Homenagem póstuma I

"Não é meu habito escrever odes necrológicas de quem quer que seja, mas a minha consciência obriga-me, impinge-me, força-me a deixar aqui estas linhas para testemunhar o passamento de um dos meus melhores amigos, o mais-velho ISSUFO SANHÁ, para mim o MINISTRO. Conheci o Dr. ISSUFO SANHÁ nos anos de 1996, era eu ainda um jovem jornalista na flor da idade e da profissão. Sem mais nem menos vi-me na equipa dele, dos assessores e conselheiros, naquela super-equipa que com ele trilhava os caminhos travessos na tentativa de endireitar as Finanças Públicas que estavam de pantanas naqueles idos anos de 1994/5.

Entrei para equipa do Ministerio das Finanças por indicação dele. Sem tirar nem por. Chamou-me, estava eu na Radio Nacional, para um dos assessores de imprensa, com os mais-velhos Muniro Conté e Cancan. Arrebatados pelo entusiasmo do MINISTRO nem demos conta do quão exigente era a tarefa a que nos propunha o Dr. ISSUFO SANHÁ. Era reunião quase todos os dias, programas, cronogramas, relatórios, breffings....O MINISTRO pareceia que tinha pressa em resolver as coisas, colocar as Finanças Publicas em ordem. Talvez sentisse que o tempo urgia.

Não fosse a famigerada guerra civil da nossa tristemente lembrança colectiva, o país, já em 1998 teria atingido o badalado ponto de conclusão e logrado a iniciativa HPPIC (perdão da divida) com o Dr. ISSUFO SANHÁ. O MINISTRO tinha tudo na cabeça, mesmo tendo ao seu lado pessoas altamente qualificadas e prontas a servir o país. Mesmo com essas pessoas pela volta, sempre estava na linha da frente na planificação, organização e execução das tarefas.

Pela mão do MINISTRO tive a grata oportunidade de partilhar experiência com gente tão ilustre como: Paulo Gomes, Huco Monteiro, Amizade Fará Gomes, Higino Mendes, Suleimane Seidi, Quetá Baldé, Veríssimo 'Tchitchy' Nancassa, Cancan, Muniro Conté, Saturnina, tantos e tantos outros. Foi pena a guerra de 07 de Junho. Mas, mesmo amargurado o MINISTRO não amainou na sua tarefa de tentar mudar o país, fazer algo na sua area, as Finanças Publicas. Fez o que pôde onde foi posto como governante.

Lembro-me das vezes que ele me explicava as coisas em linguagem de gente. Coisas complicadas, das contas públicas, que só ele sabia na sua cabeça pensante. Sempre pensante. Lembro-me das vezes que ele me dizia 'Jovem não desistas dos teus sonhos. Hás-de lá chegar um dia! E o mais bonito da nossa amizade, foi quando, um belo dia, ele me disse assim: Jovem tudo o que é meu é teu, pois tu és meu irmão. Foi comovente ouvir tal coisa de uma pessoa que muitos guineenses tiveram como ídolo. O ISSUFO gostava mesmo de mim. Disso não havia dúvida. E eu dele também.

Lembro-me da altura do seu casamento. Sabendo ele que não é do meu feitio assistir às festas, mandou o motorista dele à minha casa entregar-me pessoalmente o convite que ele mesmo assinou com o seu punho para me convidar à assistir à boda. Mesmo não gostando das festas, lá tive que aceitar o convite. No dia do casório, na Conservatória do Registo Civil, sala apinha, lá apareci e lhe dei um grande abraço, ao que me disse: Jovem (como sempre tratou-me) adorei que tenhas vindo ao meu casamento!.

Já como deputado, o MINISTRO maneve sempre a chama de espernaça em ver o país a avançar. Quantas e quantas vezes vi-me na contingência de lhe lembrar, como amigo e com todo respeito, que agora a responsabildiade pelas Finanças Publicas é de outras pessoas, tal era o entusiasmo que emprestava às discussões sobre a coisa. O Dr. ISSUFO amava as Finanças Públicas, penso que mesmo que lhe dessem a escolher o cargo de primeiro-ministro ou Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas (um cargo importante na Guiné) ele prefereria ser Ministro das Finanças.

Alguém escreveu que o MINISTRO ficara na história colectiva deste país como um grande promotor da Juventude. Assino por baixo. Assino porque sou a prova provada desse facto. Quando falo do meu caso, falo também de outros quadros jovens que foram lançados à ribalta pela mão e sapiência de ISSUFO SANHÁ. Penso que todos eles, sem excepção, saberão guardar os ensinamentos do mais-velho, segundo as quais a coisa publica é sagrada e devemos sempre tentar fazer algo para mudar a vida dos outros.

Fui assistir ao enterro do MINISTRO. Ainda quis chorar, apateceu-me gritar, para demonstrar a minha tristeza, mas lembrei-me da minha crença em ALA SUBUANA WATALLA e só me pus a lembrar dele e a orar à ALÁ que Lhe dê um bom e eterno descanso em paz. Regozijei-me quando constatei que a sua sepultura ficará mesmo ao lado da do seu pai, de quem falava com entusiasmo.

Peço aos amigos do MINISTRO, crentes de todas as religiões, sobretudo aos muçulmanos que possam ler esta ode ao meu amigo, que rezam por ele e lhe dediquem FIDAUS de cada vez que façam um SALAT.

Mussá Baldé
Jornalista
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