sexta-feira, 29 de junho de 2012

PORQUE ESCREVO!?



Escrevo, essencialmente porque gosto de escrever.

Não sei, nem quero saber se outros também gostam de escrever, se começaram a escrever antes ou depois de mim.

Escrevo, porque não consigo calar-me perante as injustiças.

Não sei, nem quero saber se outros se calam perante as injustiças.

Escrevo, porque não admito que me tentem silenciar.

Não sei, nem quero saber se conseguiram silenciar os outros.

Escrevo, porque sinto-me livre para escrever e só concebo escrever sem quaisquer condicionalismos.

Não sei, nem quero saber se os outros se sentem ou não livres ou condicionados para escrever.

Escrevo, essencialmente sobre a minha pátria, porque respeito-a e tenho orgulho nas minhas raízes, na minha infância e na minha juventude.

Não sei, nem quero saber se amo e respeito a minha pátria mais que outros guineenses.

Escrevo, porque revolta-me ver a minha pátria e o meu povo refém de criminosos.

Não sei, nem quero saber se são ou não mais criminosos que outros.

Escrevo, porque vejo criminosos a cometerem barbaridades na minha pátria.

Não sei, nem quero saber se essas barbaridades são mais graves que aquelas cometidas noutros países.

Escrevo, porque sinto a dor e a revolta do meu povo.

Não sei, nem quero saber da dor e da revolta dos outros povos.

Escrevo, porque vejo oportunistas e incompetentes a assaltarem o poder na minha pátria.

Não sei, nem quero saber dos oportunistas e incompetentes da pátria dos outros, mas quero ajudar a combater os da minha terra.

Escrevo, porque vejo guineenses a confundirem aproveitamento de lacunas legais, com inconstitucionalidades.

Não sei, nem quero saber das lacunas legais e inconstitucionalidade dos outros países.

Escrevo, porque vejo os guineenses a confundirem os interesses da pátria, com os interesses de Cadogo Jr., de António Indjai, de Kumba Yalá, do PAIGC e do PRS.

Não sei, nem quero saber da pessoalização e personificação dos interesses dos outros países.

Escrevo, porque vejo guineenses a confundirem violentos golpes de estado militar, com a defesa da soberania nacional.

Não sei, nem quero saber dos golpes de estado e da soberania de outros estados.

Escrevo, porque vejo um Chefe de Estado-maior General das Forças Armadas, a convocar e dirigir uma reunião de antigos combatentes, no edifício que é o maior símbolo da democracia de qualquer país democrático.

Não sei, nem quero saber dos símbolos da democracia dos outros países.

Escrevo, porque vejo um Chefe de Estado-maior das Forças Armadas, principal suspeito de alguns crimes de sangue e de narcotráfico, a participar num Conselho de Ministros, no meu país que se queria democrático.

Não sei, nem quero saber dos ditadores, assassinos e narcotraficantes que presidem Conselhos de Ministros noutros países.

Escrevo, porque sinto que é hora de todos os guineenses de bem se manifestarem, de uma forma ou outra e, a minha forma de manifestar é escrevendo.

Não sei, nem quero saber se os outros se manifestam escrevendo, gritando ou em silêncio. Mas, é importante que se manifestem.

Importo-me sim, quando assisto a pacificidade e conformismo do povo guineense que permite que o chamem a votar e depois alterem o sentido do seu voto, desrespeitando a sua vontade e comprometendo simultaneamente o seu bem-estar e a sua liberdade…

Importo-me sim, quando vejo guineenses capazes de travar uma luta maior e ainda melhor que esta minha pequena contribuição, acomodarem-se ou deixarem-se intimidar por analfabetos com armas nas mãos ou outros condicionalismos…

Importo-me sim, se aqueles guineenses livres de condicionalismos não manifestarem como forma de resistência aos criminosos, aos oportunistas, a impunidade, a ignorância e a esquizofrenia na Guiné-Bissau.

Portanto, escrevo porque preciso e porque a minha pátria precisa de quem se manifesta, de uma forma ou de outra, livre de quaisquer condicionalismos.

Eu faço a minha parte (gostava de poder fazer mais) e cada guineense devia fazer a sua, se realmente queremos ver a Guiné-Bissau verdadeiramente livre, independente e a desenvolver-se.

A mudança tem de começar em nós guineenses, dentro e fora do país, para que os outros (a chamada comunidade internacional) possam levar-nos efetivamente a sério. Se não demonstrarmos o que realmente queremos, dificilmente os outros nos ajudarão a conquistá-lo…

Por isso, não nos calemos e manifestemos até a exaustão, pela Guiné-Bissau livre de golpes de estado e de governos de transição.

Jorge Herbert