sábado, 17 de novembro de 2012

África está assim




A aprovação na terça-feira pela União Africana (UA) do envio de uma força militar internacional para reconquistar o norte do Mali, ocupado por islamitas armados, constituiu destaque no noticiário africano da semana que se encerra hoje (sábado).

Segundo um plano adoptado domingo por dirigentes da África Ocidental, o Conselho de Paz e de Segurança da UA decidiu aprovar o conceito "de operações para a mobilização planeada da força conduzida pela África, em apoio ao Mali", havia anunciado terça-feira o comissário de Paz e Segurança da UA, Ramtane Lamamra.

Os dirigentes da África Ocidental reunidos domingo em Abuja concordaram em enviar ao Mali uma força militar internacional de 3.300 soldados em um ano.

Este plano será submetido à Organização das Nações Unidas (ONU) antes do final de Novembro, através da UA, para que o Conselho de Segurança dê luz verde às operações.

Entretanto, o representante da ONU para a África Ocidental, Said Djinnit, declarou na terça-feira após um encontro com o mediador da crise maliana, o presidente burkinabe, Blaise Campaoré, que o diálogo é a "opção preferencial " para resolver o conflito no Mali, cujos resultados devem ser "rápidos".

Para as Nações Unidas, "todas as opções e vias de diálogo devem ser exploradas para se tentar resolver a questão pacificamente", acrescentou.

Ainda nesta senda, as autoridades argelinas asseguraram que "vão encerrar a sua fronteira" em caso de acção militar africana para reconquistar o norte maliano.

Foi igualmente manchete dos últimos sete dias, a eclosão quinta-feira de novos combates entre o exército e a rebelião Movimento de 23 de Março (M23), próximo de Goma, no leste da República Democrática do Congo (RDC).

Num comunicado, a rebelião acusou que o exército lançou as "ofensivas contra elementos do M23 nas suas posições sobre os eixos de Rugali, à 30 quilómetros da vila de Goma", a capital da província do Kivu-Norte, denunciando uma ruptura da trégua relativa que foi observada.

De acordo com um inquérito da ONU sobre a situação dos direitos humanos na província do Kivu-Norte (RDC) publicado quarta-feira em Genebra, pelo menos 300 pessoas, das quais 83 crianças, foram executadas arbitrariamente por grupos armados na República Democrática do Congo (RDC) entre Abril e Setembro.

Paralelamente a isso, o Conselho dos Ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia (UE), previsto para 19 de Novembro em Bruxelas, agendou a tomada de sanções contra o Rwanda, devido ao seu suposto apoio ao grupo rebelde congolês M 23.

Segundo um comunicado divulgado terça-feira, os ministros europeus analisarão a possibilidade de decretar igualmente sanções contra os dirigentes do grupo rebelde congolês M 23.

Por seu turno, o governo do Uganda anunciou quarta-feira o encerramento de um posto fronteiriço chave com a República Democrática do Congo, a pedido das autoridades de Kinshasa, descontentes pelo facto da rebelião congolesa M23 cobrar impostos.

Mereceu igualmente destaque noticioso a confirmação do governo federal da Nigéria de ter iniciado negociações "informais" com o grupo Boko Haram, a fim de pôr termo à violência perpetrada por esta seita islamita.

Segundo o porta-voz da presidência nigeriana, Reuben Abati, "as negociações em curso são informais, onde pessoas que conhecem membros do grupo discutem com eles em nome do governo".

No mês passado, Boko Haram disse estar pronto para dialogar com o governo, mas com algumas condições, nomeadamente que o ex-chefe de Estado militar nigeriano, Muhammdu Buhari, seja um dos facilitadores e que as discussões decorram na Arábia Saudita.

O governo aceitou a oferta, mas o general Buhari recusou fazer parte das negociações e o grupo Boko Haram não reagiu à sua decisão.

A situação política na Guiné-Bissau também mereceu destaque na imprensa africana, desta feita com a declaração da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) de que continua a "aguardar os termos de referência" da missão conjunta para a Guiné-Bissau, aprovada na última Assembleia-Geral da ONU.

À saída de uma audiência com o presidente português, Cavaco Silva, realizada terça-feira em Lisboa, o secretário executivo da CPLP, Murade Muragy, disse que a União Africana (UA) "ainda não enviou" aqueles "termos de referência", que determinarão "os objectivos da missão conjunta".

Na ausência disso, a CPLP "ainda não decidiu" sobre a sua participação na missão, acrescentou. Em Setembro, as Nações Unidas decidiram enviar à Guiné-Bissau uma missão composta pela CPLP, pela UA, pela Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) e pela própria ONU, para avaliar a situação e recomendar medidas para a estabilização do país, gerido por um Governo de transição desde o golpe de Estado, em Abril passado.

Por outro lado, a rejeição do governo da Gâmbia de prestar qualquer apoio à desestabilização da Guiné-Bissau também mereceu destaque nos últimos sete dias.

Quarta-feira, o embaixador da Gâmbia na Guiné-Bissau, Abdu Djedju, negou que o seu país possa servir de base ou de apoio a quem queira desestabilizar a Guiné-Bissau, como tem sido sugerido pelas autoridades civis e militares guineenses.

"Sempre disse que o Governo da Gâmbia está sempre ao lado da Guiné-Bissau em diferentes situações difíceis, pelo que em nenhuma situação a Gâmbia poderá ser parceira de alguém que queira desestabilizar a Guiné-Bissau", defendeu Abdu Djedju.

Constituíram ainda manchete na semana os preparativos para as eleições na Serra-Leoa, que se realizam hoje (sábado), onde pelo menos 2,6 milhões de eleitores são chamados a votar nestas eleições gerais consideradas como um teste crucial para a consolidação da democracia.

Dez anos após o fim de uma longa guerra civil (1991-2002), que causou 120.000 mortos, é a primeira vez que o governo organiza esse escrutínio, sem a intervenção directa da ONU, que está presente no país, desde 1999. O reagrupamento dos escrutínios (presidenciais, legislativas, municipais e regionais) é igualmente uma primeira.

Teve igualmente respaldo noticioso, a aprovação na terça-feira pelo parlamento da Somália da composição do novo governo somali. Dez ministros do novo governo formado pelo presidente Hassan Cheikh Mohamoud a 04 de Novembro, em que entram duas mulheres, foram confirmados pelo parlamento.

Por fim, a dissolução quarta-feira pelo presidente da Côte d’Ivoire, Alassane Ouattara, do governo formado em Março e encarregue de levantar o país após a crise político–militar mortífera de 2010–201, foi igualmente destaque. Segundo a presidência ivoiriense, o presidente anunciou, quarta-feira de manhã, no conselho de ministros a dissolução do governo, sem precisar as razões dessa dissolução inesperada, nem quando será formado o novo gabinete.