segunda-feira, 5 de novembro de 2012

EXPOSIÇÃO > Guiné-Bissau em Paris


Imagens inéditas captadas na Guiné-Bissau estão em exposição na galeria Jeu de Paume, em Paris, um trabalho da artista plástica Filipa César, que no último ano inventariou e a digitalizou filmagens produzidas antes e depois da independência.

Em declarações à agência Lusa, a curadora Filipa Oliveira explicou que a exposição "Luta ca caba inda" ("A luta ainda não acabou") mostra apenas uma parte do projeto de Filipa César, "que é mais longo e mais complexo", e que consiste em "salvar o arquivo de cinema da Guiné-Bissau, que estava em risco de desaparecer".

No arquivo existem imagens documentais filmadas pelos cineastas guineenses Flora Gomes e Sana na N'Hada entre 1972 e 1980, imagens de dois filmes realizados pelos mesmos autores nos anos de 1980, e também filmes produzidos nos países com os quais a Guiné-Bissau estava alinhada na época (República Democrática da Alemanha, União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, Cuba), diversos registos áudio e uma série de cópias de vídeo de obras cedidas pelo cineasta e escritor francês Chris Marker.

"[Digitalizar o arquivo] é quase um projeto histórico, porque o cinema teve um papel importantíssimo na Guiné-Bissau nos anos de 1970. Era um sonho do Amílcar Cabral. O cinema tinha um lado de propaganda, mas também era uma maneira de unir o povo e de criar uma identidade nacional, através da imagem", acrescentou Filipa Oliveira. A curadora lembra que "a maior parte" dos filmes em causa "nunca foi vista pelos guineenses".

Este pedaço da história estava fechado dentro de uma sala em Bissau, em "muito mau estado", contou à Lusa a artista portuguesa, a partir de Berlim, onde vive. O arquivo de cinema da Guiné-Bissau, explicou Filipa César, despertava pouco interesse. "Pensava-se que só existiam ali filmes estrangeiros". Entretanto, o espólio sofreu as consequências da contínua instabilidade política no país e da guerra. Parte dele nem pode ser digitalizado. "Para mim, como artista, este arquivo é interessante. Mas ele é também muito fragmentário. Não está editado, não está identificado", acrescentou a artista.

Entre o material que Filipa César mostra agora ao público estão imagens captadas aquando da proclamação da independência da Guiné-Bissau, em 1973, e do filme (inacabado) "Guiné-Bissau, 6 anos depois", de 1980. Para que esta amostra chegasse ao público -- e porque, em parte, está "intimamente ligada" com a necessidade de angariar apoios que permitam avançar com o projeto -- Filipa César percorreu um caminho demorado e complexo de "burocracia" e "diplomacia". Socorreu-se, diz, da sua "teimosia".

A exposição está patente até ao dia 20 de janeiro na capital francesa e integra o programa de exposições Satellite, sob o tema "O presente é uma terra estrangeira". A artista teve o apoio de diversas entidades públicas, entrea as quais o Goethe-Institut de Dacar e de Paris, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, a Fundação Gulbenkian, e o fundo de promoção artística Stiftung Kunstfonds de Bonn (Alemanha). A exposição teve ainda o apoio do Instituto Camões, da delegação da Fundação Calouste Gulbenkian em França e do Arsenal -- Instituto de Arte de Cinema e Vídeo de Berlim. LUSA