quinta-feira, 15 de novembro de 2012

O golpe final


O golpe de 12 de abril foi o prêmbulo de uma saga de maquiavelismo e de morte perpetada e levada a cabo por uma minoria em armas contra uma maioria que clama e reclama democracia. A encenação do golpe de 21 de outubro passado, foi outro engrediente do acto da comédia sanguinaria que se esta vivendo actualmente na nossa pobre e desamparada Guiné-Bissau.

Segue-se aos dois acontecimentos acima, a entrevista radiofônica concedida pelo intelecto-golpista, porta voz do Comité Militar, Daba Na Walma em que indicava aos seus apaniguados golpistas qual o caminho e o passo a dar a seguir com vista ao Golpe Final. Publicamente e sem pejo algum, o porta-voz do Comité Militar, instruiu os seus parceiros no golpe de estado, no sentido de se considerar a ANP absoleta para a situação actual que se vive no pais, porquanto, ela é, um «orgão de meras contradições e sem soluções para o pais» e como tal, "devia ser dissolvida e substituida por um Conselho Nacional de Transição". A missa foi dada no momento oportuno, então caberia seguidamente os subditos politicos cumprir as ordens dos mestres da situação.

Assim, um improvisado e inusitado «Forum de partidos politicos» surgiu à ribalta para dar voz e corpo ao plano delineado pelos militares. Esse tal «Forum de Partidos Politicos» cuja primeira emanação surgiu logo apos o golpe de estado, não é, nada mais, nada menos, do que uma fachada de cobertura à militarização politica do pais pelo PRS, a qual se associaram parasitariamente quase uma quinzena de micro-partidos, a maioria deles, sem sede e alguns mesmos sem militantes sequer, a não ser os proprios dirigentes, nalguns casos constituido unicamente de pessoas da mesma familia. Cereja sobre o bolo, Artur Sanha surge à cabeça como porta-voz, numa cacofônica conferência de imprensa, vir anunciar, seguindo as instruções dos seus patréoes militares, a «caducidade da ANP», a «exclusão do PAIGC de qualquer eventual participação num governo de unidade nacional»..., entre outras barbaridades sem nexo, senão baboseiras de uma mente invadida e perdida pela deriva do poder.

Relembre-se ao Artur Sanha e os seus patrões e comparsas golpista, de que, a ANP, não se extingue tout court, pelo fim da legislatura para que foi eleita. Ela mantém-se me funções, funcionando esse orgão nos intervalo de nova eleição, através da sua Comissão Permanente até eleição e a tomada de posse dos novos deputados saidos das novas eleições legislativas. Portando, essa caducidade so existe na mente e nos manuais golpistas de Bissau.

Assim, ligando os factos, é de elementar conclusão de que, a saida em força do porta-voz do « Forum » não é mais do que a voz da cobertura politica de um golpe de estado maduramente concebido e acordado entre os militares e o PRS, sob orientação e liderança respectivamente de, Antonio Injai e Kumba Yala. Esse plano estava ha muito urdido por estes dois protagonistas, que por um lado, visam desestructurar e aniquilar politicamente o PAIGC e por outro, assumir de facto na plenitude o poder por via desse plano politico militar delineado e posto à execução pelo duo Comando Militar/PRS.

Sabia-se de antemão de que, tanto a CEDEAO, assim como o actual governo de transição não tinham condições nem interesse na realização da propalada eleições gerais. Deixou-se correr o tempo, e foi-se amuderecendo o plano do assalto ao poder com a complacência e cumplicidade da CEDEAO. E evidente de que, quer os militares, quer a sua ala politica, o PRS, nunca estiveram interessados na realização desse pleito democratico, pois estão conscientes de que têm, mais garantias de governar pela força e pela via do golpe do que, através de um processo democratico. O Povo esta enjoado e enojado dos militares e do PRS que, por mais trafulhices que possam fazer não teriam a minima garantia de ganhar... mesmo batotando. Assim, o caminho mais facil e o que têm à mão: a força das armas e cumplicidade da CEDEAO para de transito em transito se perpetuarem no poder e tribalizar o pais.

Com essas declarações sequêncialmente em harmonia desses actores da nossa desgraça, estamos perante o assalto final do poder pelos militares balantas e o PRS na Guiné-Bissau.

Esse plano de assalto do poder, consumar-se-a da seguinte forma:

A criação de um Conselho Nacional de Transição (CNT) com um mandato incial de dois anos e em que o PAIGC seria excluido (a meu ver, nem devera nunca participar nessa trama) ;
A nomeação de um novo Presidente de Transição cuja escolha recairia irremediavelmente sobre Kumba Yala, permitindo-lhe « concluir » o seu mandato de dois anos interrompidos pelo caricato golpe militar de 2003. Mandato esse interrompido que, que os militares balantas nunca perdoaram ao malogrado Verissimo Correia Seabra que acabou por pagar com vida essa ousadia;

Ao Serifo Nhamadjo (sabendo-se que quase de certeza recusara) sera proposta a chefia do CNT (orgão desprovido de poderes, pois o poder sera exercido entre AI e KY), para novamente encobrir a balantização do golpe;

O Primeiro Ministro seria ora Artur Sanha, ora Malam Sambu (braço direito e financeiro-môr de KY). Este posto é que dara mais problemas entre os dois homens fortes e cuja possivel saida, podera passar em ultima instância pela escolha de um pau mandado saido dos dissidentes dos PAIGC;

A formação do governo de transição, incluindo Ministérios e Secretarias de Estado, sera composto em 80% pelo PRS e os restantes 20% serão divididos pelos unhas de fome dos micro-partidos e alguns dissidentes do PAIGC que não podem viver fora da esfera do poder;

A transição inicialmene prevista para dois anos (para colmatar o mandato interrompido de KY) durara para além desse periodo, desde que consigam manter o apoio da CEDEAO, particularmente da Nigéria (pais mais interessado a par do Senegal na manutenção do status quo na Guiné-Bissau), assim como dos proventos do narcotrafico e de grupos mafiosos que estão interessados e desejosos de instalarem os seus centros de negocios obscuros nesse pais entregue ao desmando e aos fora-de-lei dos militares e mercê de um tribalismo crescente e sanguinario.

Perante este cenario que esta prestes a se consumar e, na hipotese remota de a CEDEAO não ser conivente neste golpe final à democracia, atrevo-me a perguntar, qual sera a reacção dessa organização, visto que, tanto o Presidente, assim como o Governo por eles impostos, em nenhuma ocasião cumpriram com as recomendações saidas dos seus orgãos de decisão e em nenhum momento se dignaram cumprir os engajamentos assumidos para o periodo de transição. Senão vejamos :

- O Governo imposto pela CEDEAO nunca aceitou a abertura do dialogo à principal e maioritaria força politica do pais, o PAIGC, recusando sistematicamente a sua inclusão em todos os processos delineados para a saida da crise ;

- A ANP, devido a recusa intransigente de Ibraima Sory Djalo, mantem-se bloqueada até a presente data, negando este descarada e abusivamente a seguir as recomendações dos Chefes de Estado da CEDEAO no sentido de se realizarem eleições para a Mesa desse orgão que eles entenderam perservar para levar a cabo as «reformas legais» indicadas na roteiro para a saida da crise ;

- Os militares, em algum momento aceitaram recolher às casernas e deixar de se imiscuiemr em assuntos politicos e, pelo contrario mais intervêm, mandando no Presidente Interino, no Governo de Transição e impunemente vão matando, torturando e prendendo indefesos cidadãos ao minimo gemido de discordância com os seus desmandos de poder ;

- As tropas da CEDEAO, néao passa de uma bosta no pasto, pois nada fazem e nunca conseguiram se impôr para proteger os cidadãos e as instituições do pais, face a brutalidade e desmandos dos militares. Mais parecem caucionadores da saga sanguinaria que se abate contra o Povo da Guiné-Bissau, pois assistem impavidos e serenos as séries de assassinatos, raptos, espancamentos, torturas e prisões arbitrarias de politicos e cidadãos... sem mugir nem tussir ;

Porém, a aceitar essa mosntruosidade politica que se apronta, associada às desfeitas e falta de seriedade ja suficientemente demostrada pelos militares e o PRS (reais detentores do poder na Guiné-Bissau) nesse malfadado processo de transição, essa organização esta a pôr seriamente em causa a sua credibilidade e, inevitavelmente, os niveis de confiança do Povo Guineense em relação a esta organização tocara o fundo do descrédito, caso não ponham fim a este plano maquiavélico e ignobil.

A ser assim, forçosamente so restara à CEDEAO a porta da saida pequena, deixando espaço a outros actores, mais habilitados, mais sérios, mais coerentes, desinteressados e realmente interessados em resolver os problemas do Povo da Guiné-Bissau.

Sendo assim também, a União Africana (UA) e as Nações Unidas, não poderão ficar calados, assobiando para o lado e deixar o Povo Guineense entregue a dois loucos desvairados e a uma bicharada de gente que so sabe roubar e matar em nome de um militarismo tribal cego e sectario.

Apolinario Gilvêncio Silva