domingo, 5 de julho de 2015

INDIGNADO


Olá Aly,

parabens pelo teu blog. Obrigado por nos informar sobre aquilo que acontece no nosso país. O discurso do Presidente foi muito esclarecedor. Acho que está cumprindo com a sua tarefa de comandante deste barco, procurando a cada istante melhorar o desempenho das instituições democráticas. Interpretar doutra forma as suas declarações seria profundamente errado. Claro que nem tudo é perfeito num país e sempre haverá situações para corrigir. Pretender que o Presidente se limite a cortar fitas e feche os olhos perante os factos que ele apontou, seria ofensivo pela dignidade da sua função.
Espero que continue com esse empenho sem ficar desencorajado. Em anexo encontras uma carta aberta relativa à forma em que fui recebido no aereoporto após minhas férias.
Se o achares conveniente podes publicá-la.
Obrigado pela atenção

"Carta aberta a Sua Exc.cia o Presidente da República, ao Executivo da Guiné-Bissau, na pessoa do Primeiro Ministro, aos Deputados da Nação, na pessoa do Presidente da Assembleia Nacional e ao Supremo Tribunal de Justiça, na pessoa do seu Presidente.

Assunto: Perplexidades em relação ao tratamento que recebi ao chegar em Bissau depois de um período de férias.

Cheguei à Guiné pela primeira vez nos finais de 1989. Tenho portanto acerca de 25 anos de presença neste país, o equivalente dos anos passados em Itália, minha terra natal. Nem a guerra do 1998 me fez recuar, pelo contrário: prestei serviço voluntário no centro de Ndame nos arredores de Bissau para acolher mais de duas mil pessoas que tinham fugido a causa dos bombardeamentos em curso na cidade.

Desde o início senti-me bem acolhido pela população guineense. Durante muitos anos fui portador do cartão de estrangeiro, mas no meu sentido fiz tudo para me integrar social e culturalmente na sociedade guineense.
Em 2005 uni-me em casamento com minha esposa, originária da ilha de Orango, e em 2009 obtive a nacionalidade guineense. Desde então sou portador do B.I. da Guiné-Bissau, chegando assim a exercer o direito de voto nas últimas eleições políticas.

Duas vezes, depois da aquisição da nacionalidade guineense, (em 2010 e 2012) viajei para a Itália e ao regressar não tive nenhum problema de entrada ao apresentar meu passaporte italiano junto com meu Bilhete de Identidade.

Este ano pela primeira vez me foi dito que o B.I. guineense e o passaporte italiano são incompatíveis. Por não ter passaporte guineense me foi imposto o pagamento do visto de entrada como se fosse um estrangeiro a chegar pela primeira vez no país.

Qual é a lei que foi aplicada? Qual é o sentido desta lei? Ser italiano e ao mesmo tempo ser guineense é incompatível?

Ter escolhido a Guiné como segunda pátria e ter vivido aqui já durante 25 anos pode anular o facto que nasci e vivi na Itália? O meu passaporte italiano invalida o meu B.I. guineense?

Há qualquer conflito entre a Guiné e a Itália que me impõe de negar minha pertença a qualquer desses países para mim tão queridos? O que levou Amilcar Cabral à luta contra o regime de Salazar era a ideologia fascista deste último, que negava ao povo da Guiné a legitima aspiração à independência. E desde a conquista da independência Portugal é considerado um país irmão.

Se existir verdadeiramente qualquer incompatibilidade gostava de entender as razões. Em caso contrário era bom tomar medidas para que um cidadão guineense tenha o direito de entrar na Guiné sem pagar visto de entrada como quem chega pela primeira vez.

Obrigado pela atenção
Paolo Iarocci